segunda-feira, 23 de julho de 2007

Bandeijão - Segunda Edição

Falta Público Alvo?

Bom dia. Tá com fome? É uma pena que não dá para comer o papel deste jornal, afinal, na Unifor, a comida tá cada vez mais cara.
A lógica da universidade é brilhante, abre lugar para empresas montarem seus estabelecimentos, em troca de um aluguel, que aumenta bastante a renda já arrecadada com nossas caras mensalidades. Na concessão deste espaço não se pensa se o produto vai ser accessível para a maioria dos vinte cinco mil alunos da Universidade, mas se vai trazer lucro para a família Queiroz.
O último estabelecimento a ser inaugurado no centro de convivência foi um restaurante japonês. A comida japonesa prima para seus apreciadores pelo sabor, por ser saudável e por ser MUITO CARA, ótima para ser consumida nos bares e restaurantes da Aldeota e Meireles, nem tão indicada assim para uma Universidade.
Eles afirmam que não se faz um restaurante universitário por falta de um público alvo. Será que não tem? Será que não tem estudante suficiente nessa Universidade que queira comer uma COMIDA de qualidade e a um preço acessível para a realidade estudantil? É mais provável que tenha.
Se o argumento não for suficiente vem outra pergunta. Será que tem mais estudantes interessados em comer em um restaurante japonês do que num universitário? Lembrem que tem muita gente que não curte peixe cru ou que não curte nenhum tipo de carne.
Sinceramente, esse argumento de falta de público é um tanto quanto calhorda. É muito mais provável que insistam em não abrir um restaurante universitário com medo de tirar público dos restaurantes que alugam espaço no centro de convivência, diminuindo uma pequena porcentagem do lucro dessa instituição sem fins lucrativos, do que realmente falta de um público alvo. A Universidade deveria ter mais respeito com todos os que pagam a cara mensalidade.

Luta Na UFC

Os estudantes da área de saúde da universidade federal conseguiram uma vitória em relação à questão do restaurante universitário. É que no Campus do Porangabuçu, onde acontecem as aulas da Medicina, Farmácia, Enfermagem e Odontologia, não existe um restaurante desse tipo.
Por conta desta falta, os estudantes reivindicaram disponibilidade de uma refeição mais barata. Lutou-se e conseguiram. A solução encontrada aínda não é a ideal – um ônibus faz o transporte gratuito do Campus do Porangabuçu para o restaurante universitário no Campus do Pici – porém já melhorou a condição do estudante na universidade.
Se são possíveis vitórias estudantis na universidade pública, porque não seriam na paga? Esta nos trata como clientes. Já que somos clientes, temos direito de comprar o produto inteiro e não pela metade.

Na FA7 é Mais Barato

Tá com fome? Pois atravesse a Washington Soares e vá comer no restaurante da FA7, lá o prato sai por R$3,50 e dá pra comer bastante. A dica é chegar cedo, pois a comida acaba rápido.

Já temos 1400 e tantas assinaturas no abaixo-assinado pelo restaurante Universitário. O objetivo são quatro mil assinaturas, com isso podemos provar para o grupo Queiroz que o único lugar que não tem público para o RU é a casa da dona Yolanda.

Juvenal e o ENADE - Segunda Edição

Juvenal é um cara legal, universitário, estuda publicidade na Unifor. Gente boa, bom de papo, bom de copo. Se dá bem com as meninas e com os meninos, é desenrolado. A aparência física do Juvenal? Ele é assim o que chamamos de normal: magro, moreno... sei lá... Tem um estilo meio alternativo.

Juvenal poderia ser o cara perfeito, se não fosse por um único defeito: foi selecionado para fazer o Enade. Mas porra, Juvenal, que merda é o Enade? O Enade, pelo que foi dito ao nosso jovem acadêmico, é o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. É assim, ó: ele serve para ver o nível das escolas de ensino superior e, se você não fizer a prova, você não recebe o seu diploma quando se formar.

Pô, olhando assim, a prova até que poderia ser justa, mas puta que o pariu, ser obrigado a fazer é sacanagem, só pode ter treta no meio. Por isso que o inconformado Juvenal, resolveu dar uma olhada no que significa essa prova, e até que não foi difícil; perceptível como ele é, logo sentiu o cheiro da bosta.

Descobriu que o Enade é a prova que veio substituir o antigo Provão, lá dos tempos cavernosos do tal Fernando Henrique Cardoso. O diabo do provão era muito criticado, ninguém gostava, quer dizer, o governo federal e os gringos investidores, deviam gostar.

Aí, quando mudou o governo, inventaram um treco chamado SINAES, que é o Sistema Nacional de Educação Superior. O primeiro projeto do Sinaes foi bastante aplaudido, bem aceito por diversos setores da sociedade; óbvio que teve que passar por mudanças. Inventaram umas comissões fajutas para fingir que a formulação do novo sistema era democrático, o povo chiou, aí foram mudando, mudando, mudando... Até que saiu algo bem parecido com as coisas do FHC.

O Enade – além de mais uma sigla chata para decorar – é a prova de avaliação criada com Sinaes. Essa tal prova, se não é igual, lembra muito o provão. Mas se ninguém concordava com o provão, aceitaram o Enade? Lógico que não, Juvenal. O povo viu que a melhor forma de ser contra essa prova era fazer como era feito no provão, ou seja, zerar a prova.

Mas pô, Juvenal, o que será que tem de tão ruim nessas provas? Cara, é o seguinte: primeiro o fato de ser obrigatória e punitiva... Pô, é uma tremenda sacanagem cassar o diploma de quem não for fazer a prova.

Segundo, é que não leva em conta as características regionais. Imagina: já é completamente diferente uma grade curricular de uma universidade para outra, quanto mais de um estado para outro. Um exemplo disso foi na prova do Enade da Educação Física, onde perguntaram como era a prática de determinado esporte em clima de neve; óbvio que isso não se encaixa na especificidade local.

Mas Juvenal, não tem também uma parada de “rankiamento”? Pois é, para um bom publicitário é fácil sacar qual é a desse lance. É que o Enade na verdade não avalia. E mais: diminui os investimentos das universidades públicas que tiverem baixo desempenho, quando deveria ser o contrário – se está ruim tem que melhorar. Isso faz parte de uma política de transformar o público em privado. Hoje não era pra ninguém estar estudando no ensino privado, e sim na universidade pública; acaba que pagamos duas mensalidades: os impostos para a educação e a mensalidade da universidade.

O rankiamento é importantíssimo para as universidades particulares, com isso elas tentam passar a idéia de que são melhores que as outras, aí surgem as bizarrices como “cursinho preparatório para o Enade” promovido pelas universidades pagas... O problema é que o Enade e o Sinaes acabam não avaliando de verdade a questão da Universidade – pesquisa ensino e extensão –, ou seja, fazem uma avaliação falsa.

Errata: é errando que a gente se fode. – Segunda Edição

Muito prazer, pra quem não me conhece sou o Gabriel, um dos viabilizadores desse jornal. Pra quem já, sabe muito bem que tranquei a faculdade desde o ano passado. Mas é com grande tesão que ajudo o pessoal do D.A. a fazer esse informativo que você tem em mãos. Sim! Eu ajudo. Mas também é só isso, porque pelos 3 anos que vivi no ambiente universitário, 2 e meio desses foram engajados no Movimento Estudantil. E mais, durante metade disso a dedicação era quase de 100% (coisa absurdamente desnecessária que não aconselho a ninguém, e muito menos pretendo fazer de novo). Mas sem arrependimentos claro. Então quando me vem a oportunidade de dar esporadicamente uma mãozinha para uma casa que eu ajudei a construir (por mais que hoje nossas idéias sejam tão diferentes) não hesito em acudir.

Faço esse espaço na verdade para agradecer os ávidos leitores do Tzão. Nós agradecemos aos que gostaram, e aos que não. Logo que desde a primeira edição ouvimos críticas e elogios com muito afinco. Então só queria dar uma de Ombudsman e fazer um espaço de reflexão.

A força do grupo que viabilizou esse folheto vem tanto do Diretório quanto dos estudantes. Então quando escutamos elogios e críticas ficamos felizes por sabermos que a mensagem está sendo recebida. Porque deixo escrito aqui que não é fácil fazer um negócio apressado, em preto e branco, e ainda xerocado. Todo mundo que trabalha com Fanzine sabe do que eu estou falando. Quando a foto, ou a fonte é linda, mas a máquina de xerox é decadente e mancha toda a página. E usando papel reciclado ainda (apesar de ter dado um toque especial), as variáveis são enormes. Então, como não estou falando pela faculdade sempre, e já que só volto pra esse antro de “conhecimento” ano que vem, o que ouvi foi que o jornal foi muito bem recebido. Mas é a crítica que faz o material crescer de verdade. Então, quem quiser acrescentar algo ao lido aqui, provavelmente conhece alguém do DA e ficaremos prontos a colocar em futuras tiragens.

No mais, queria deixar bem claro que o estilo largado, fanzinístico e fora-da-lei desta publicação, além de ser totalmente proposital, tenta não seguir padrão algum, pois ele é feito com o mais fiel espírito Gonzo de produção. E o estilo Gonzo de ser, pra quem não sabe, foi concebido pelo jornalista estadunidense Hunter Thompson. Um cara completamente louco que criou esse estilo para (muito felizmente) fugir de toda regra de cretinos manuais de redação e normas de escrita. E ir de encontro a uma mistura de Contra-Cultura e literatura com pitadas de palavrões e obscenidades, com certeza. Claro que uma mínima noção de produção gráfica e gramática são necessárias para se escrever qualquer coisa. Mas porque se preocupar com como o cidadão vai ler, se vai ser confortável para sua visão, se a preposição está correta? Ora, já é difícil fazer um estudante ler qualquer coisa, então melhor que ninguém ligue pra mais nada. O próprio Saramago não usa parágrafos, e o cara é ganhador de Nobel. E quem somos nós pra falarmos do Saramago! ... hehe.
Quem se interessar pelo Thompson, ou pelo menos querer saber porque é chamado Gonzo (e eu digo que não tem nada a ver com os Muppet Babies) ache-o facilmente na internet, e nas mais próximas livrarias. Ele é autor de livros como: Rum-Diário de Um Jornalista Bêbado, Hells Angels e A Grande Caçada aos Tubarões. Ou ainda o filme “Medo e Delírio em Lãs Vegas”, ótima pedida psicodélica para conhecer o cara, que ainda é interpretado perfeitamente pelo Johnny Depp.

por Gabriel Gonçalves

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sem idealismos - Segunda Edição

É muito fácil rotineiramente falar do que são os problemas do país, o que os causa, o que os mantêm. Vista de fora a periferia chega mesmo a ser bonita, inspiradora até do ponto de vista poético. Você observa somente quando as cortinas se abrem, somente o que se deixa expor. Sem perceber o humano presente. Vê a “cidade” dentro da cidade, como se fosse arquitetada, como se fosse patrimônio seu. Uma beleza sem idealismos, realizada como meio de sobrevivência, não uma reação pensada, mas uma reação ao mundo que está fora dos padrões. Percebe os barracos assimétricos, os meninos de pés descalços lutando pela vida num campinho de futebol, as mulheres com sonhos de menina, muitos filhos, um único cômodo, geladeiras vazias e a televisão ligada de forma democrática como os meios insistem em afirmar que são. Sonhos e desejos pautados pelas novelas, num universo à parte e distante dos personagens principais.

Cadê a identificação, a consciência dessa massa concentrada, sem força, aos pés dos “donos”, que controlam e constroem o país? Alguém percebe os dias nessa consciência contrastada em pólos extremos? Precisamos conhecer esses limites gritantes entre a periferia e esse mundo de arranha céus que tenta encobri-la.

São muitos os que mantêm um olhar puro, com a “tranqüilidade” da fome, uma resistência freqüente e triste que só busca sobreviver. Alimenta os sonhos pelos olhos, consome o mundo. Vida dura de infância. Parecia viver durante a noite, enquanto o corpo se contorcia, sem comida, dormindo, é quando lhe vem toda a confiança e fé, essenciais a um caminho tão ligado ao medo da vida.

Você se prende naquele olhar que pede compaixão sem precisar de movimento algum. Faz escolhas. Muda de posição. Vive como um literal senhor, dono da própria opinião, do próprio mundo. Podendo e tentando mudar sua existência, exclusivamente ela, sem reparar sequer ao seu lado. Sempre absorvido por uma “inconsciência” de um mundo diferente, mais falho, crítico, lamentável mesmo, onde vidas parecem não ter valor.

Onde prefere ver a simplicidade? Existem possibilidades por todos os lados. São as cercas ou o céu aberto que lhe chamam atenção? Há alguma esperança nessa imagem, já sem glória alguma, vista pelas janelas da cidade? Não há estrelas que possam contar histórias, seguem-se vidas inteiras, cheias de paranóia e medo. Medo dos que passam pelas ruas, dos que andam ao seu lado, até cumprimentos inspiram desconfiança. Onde estão as pessoas de boa índole, que ainda respeitam, que ainda vêem os que pedem esmola, que moram nas ruas, ou nessas “cidades” inusitadas, arquitetadas pela naturalidade de fugir do frio, desse céu aberto tão seco agora sem planos, sem trajetórias, porque não se pode ver estrelas, e mesmo que elas estivessem lá já não há tempo pra isso.


por Priscila Lima

Editorial - Segunda Edição

Deveria iniciar esse editorial anunciando o luto político instaurado em todo o Diretório Acadêmico e em muitos setores do movimento estudantil, no entanto essa ação seria muito broxante para um jornal chamado Tzão.

Sem dúvida é angustiante, deprimente, triste, revoltante – diversos sentimentos ditos como negativos – observar e viver esse circo de horrores que é a política brasileira. Na verdade esse circo até que seria cômico, com tantos palhaços ridículos usando estúpidas fantasias de bons samaritanos ou de santas virgens, se não fosse tão bizarro.

Olha que legal (esse comentário foi irônico): o deputado federal mais votado no Brasil foi um tal de Paulo Malluf, lá de São Paulo. Essa figura é famosa como um dos maiores corruptos da nossa história, pelo menos, pós-ditadura militar.

Isso pra não falar no Clodovil... (figura mítica da bizarrice).

Em Alagoas a coisa também foi baixa. Pasmem. Collor, o ex-presidente, o único da história brasileira a ser cassado, conseguiu ser eleito senador – oito anos de filé (mignon) para o excelentíssimo senhor (mais ironia).

Não se preocupem, o Ceará não fez por menos. Tivemos o senhor das cuecas eleito, coronéis mantendo o poder e uma família dominando todos os setores importantes de nossa política. Uma família que participa desse domínio a cerca de quinze anos. Não seria isso uma oligarquia?

Realmente isso é mais que suficiente para cortar o tesão de qualquer um(a), pelo menos politicamente. Ainda bem que pra esse tipo de coisa existe um remédio mais eficaz que Viagra ou catuaba, são estudantes tentando se engajar politicamente, querendo ver o mundo de uma forma um tanto diferente.

É, meus queridos, o mundo é nosso. Façamos dele o que bem entendermos, porém com consciência e tesão... Muito tesão...

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Correspondência - Primeira Edição

Tem dias em que tudo o que lhe é verdadeiramente importante são suas próprias lembranças. É muito estranho comentar como foi o dia, tentar escrever coisas que aconteceram, que me fizeram lembrar, e às vezes recorrer à pessoa que eu já fui quase implorando que ela volte.
Me impressiono quando lembro. Um daqueles dias em que se busca estar sozinha, vai ao teatro, ao museu, toma café, senta e só observa. Confirma seus méritos com conversas que surgem da forma mais simples.
Você passa a vida esbarrando nas pessoas, busca por elas a cada segundo, tudo o que tenho que fazer é dá margem à possibilidade.
Finalmente estava relendo cartas, uma correspondência que mantive durante alguns meses há três anos. Não importa quantas coisas infantis talvez eu tenha escrito, por algum tempo essas palavras recebidas da forma mais convencional (de certa forma até conservadora. Quem manda cartas? Quem torna as pessoas suficientemente importantes para que lhe valha o tempo de escrever?), eram o meu conforto nos piores dias, acho que até hoje são isso, não importa a data, o que eu leio tem tanto valor hoje quanto teve antes.
Me pergunto diversas vezes o que aconteceu com essas pessoas que já passaram pela minha vida, querendo tanto trazê-las de volta ainda que por minutos, ver em que o tempo foi importante.
Era mesmo como um diálogo, era quase como falar ao telefone, perguntas, respostas, histórias contadas de uma vida inteira, conselhos, opiniões. Infelizmente as coisas mudam, as pessoas se afastam. Talvez nunca os veja de novo, não sei o que me falta pra pegar o telefone agora e depois de três anos, em uma ligação interurbana simplesmente perguntar como está. Não devíamos ter que nos fazer tantas perguntas antes de fazer qualquer coisa, às vezes os impulsos são mais importantes, queria que fossem dessa vez. Queria não me importar com a reação da pessoa do outro lado da linha. Talvez eu reaja um dia desses.
Perguntou-me certa vez o que era mais importante, os lugares ou as pessoas. Só consigo pensar nisso com completa sinceridade agora, quando vejo a falta que podem fazer. O tempo complementa, constrói, muda completamente as nossas vidas, encerra uma história, começa uma outra. Como uma tarde pode fazer falta. Esse foi o tempo que eu tive. Tempo pra mostrar uma vida inteira, pra fazer valer a pena cada segundo, pra tornar qualquer coisa possível.
Mesmo descansando terno, parado em uma caixa cheia das mais simples histórias. Não importa quanto tempo passe, o passado continua a construir os novos dias, tornar eternos. Vai continuar a me empurrar ou puxar de volta quando for necessário. E eu sei que vai ser.

“O amor é libertar aquele que se vai. Vá você também.”

por Priscila Lima

Violências da Universidade - Primeira Edição

“Está tensa: anos de preparo escolar para chegar àquela prova, uma prova que define muita coisa em seu futuro, uma prova para entrar na Universidade Federal do Ceará, ter um diploma, ser uma profissional qualificada. Sonhos e mais sonhos contidos em uma prova, somente uma prova: o vestibular.
Um frio lhe atinge o corpo, uma ânsia de vômito lhe sobe pela garganta. Nervosa, se sente mal.
Pede ao fiscal permissão para ir ao banheiro. É para lá que se dirige – chuá – joga água no rosto. Olha-se no espelho, e no reflexo, vê um homem atrás de si. Acha estranho: ele não deveria estar ali.
A mão asquerosa daquele homem sujo puxa-lhe o corpo e submete-o ao seu. A mesma mão aventura-se em seus seios, rasga-lhe a roupa. Chora. Suplica que pare... Tudo em vão. Perde sua honra e sua vida.”
Este fato aconteceu há alguns anos na Unifor, no dia de uma prova de vestibular para a UFC. Após essa barbárie, outro tipo de violência aconteceu: a violência do silêncio. O constrangedor silêncio dos veículos de comunicação que, para preservar o grupo Queiroz, não se manifestaram. Da universidade, ao ausentar-se das explicações. Os únicos que não ficaram calados foram os corredores: com suas imensas bocas, fizeram o relato que abre este texto.
Outras tantas formas de violência – que ultrapassam o caráter físico – estão presentes no dia-dia, neste espaço de saber.
Tarjas são coladas às bocas dos estudantes continuamente: o direito à livre expressão – garantido pela constituição – é completamente esquecido quando entidades de base ou grupos de estudantes têm seus textos e panfletos censurados pela Universidade. Para que circule qualquer material escrito (cartazes, panfletos, faixas) na Unifor, é preciso autorização da prefeitura do campus, sempre negada quando trata-se de críticas à universidade. Desta forma, só é possível expressá-las para os demais estudantes, subvertendo a ordem e ignorando os apelos dos seguranças do campus – que acatam ordens de seus superiores.
Enquanto a universidade está preocupada em assegurar a censura a seus estudantes, os “causos” contados nos corredores só aumentam: estórias de roubos de carro e violência sexual a um estudante, são alguns exemplos. Destes “causos”, os alunos que circulam no campus acabam nunca sabendo o que é verdade ou mentira.
A violência universitária também se origina de alguns tutores, que se utilizam de seus cargos educacionais para humilhar e expor alguns estudantes ao ridículo. Trabalhos rasgados, riscados e comentários irônicos são bastante comuns na universidade. As universitárias acabam sofrendo mais; velhos carecas lançam piadinhas e constantemente, com olhares vorazes, “secam” os corpos de suas alunas, aproveitando-se do espaço das aulas que ministram.
Os estudantes também se violentam. Além de agressões físicas e morais destinadas aos seus colegas, alguns se utilizam das entidades de base – que têm a função de representatividade estudantil – para seu beneficio próprio, aparelhando-as com partidos políticos e envolvendo-as em casos de desvio de verba – algo que já aconteceu duas vezes no DCE da Unifor.
Porém o caso de auto-violência mais comum entre os universitários é a aceitação e a acomodação em face daquilo que lhes aflige. Não tomar posição e questionar as agressões do cotidiano universitário, é o mesmo de respaldá-las. Deve-se sempre lembrar que “vozes se propagam no vento atingindo os ouvidos mais distantes, rompendo a densa barreira do silêncio”.