domingo, 1 de julho de 2007

Hasta... - Primeira Edição

“Todo coração é uma célula revolucionaria.” Essa é uma das máximas que quem assistiu o “Edukators” leva consigo para refletir. Porém não acredito que seja verdade. Na essência do seu real significado talvez, todo coração é um reduto contendo sementes revolucionarias, mas a questão é se elas serão regadas ao longo de vidas entediadas e reacionárias. E, não levando em conta o otimismo da sentença, testemunho com toda convicção que não temos mais para onde ir. Afundamos em um buraco cada vez mais fundo e escuro. Onde para poder sair deste é preciso subir nas cabeças de outras pessoas fazendo uma escada das fracas vidas humanas. Só faltava ter o Cérebro lá embaixo esperando para que fôssemos devorados por uma de suas três cabeças.
A alienação e estagnação geral atingiram seus apogeus. Se era possível se fortalecer pela fraqueza dos outros, acho que agora nem possibilidade há mais para as pobres e poucas almas esclarecidas que ainda se contorcem em seus túmulos construídos com ideologias. Foi chegado a um ponto em que todo coração tornou-se uma célula inerte, que mesmo se fizesse suas mitoses só iria se construir um núcleo apático e conformado com sua situação (ou ainda destino). Mas como pode alguém se conformar? Mas como não? A ignorância é de fato uma benção. Já filosofava o germano bigodudo e pessimista até a morte, mais conhecido com Nietzsche, que só o homem que concebe o bem é virtuoso.
É bem mais fácil não fazer nada. É mais fácil ainda dizer que faz. Dizer que quer mudar o mundo. Fechar os olhos e achar que está fazendo alguma coisa de tamanha importância, que seja relevante para sua própria criação ou ainda que influencie outras gerações. É muito mais fácil dar o peixe. Fácil o suficiente para que todos consigam dormir a noite, enrolados em sonhos despreocupados. Quando deviam se perguntar pra quê? Do que adianta? Porquê? Não existe inimigo maior para lutarmos do que nós mesmos. Não existe conspiração ou ditador imperialista que seja mais difícil de combater que nosso próprio bom senso.
Se o tipo de luta que os Edukators ou qualquer outro grupo fazem tem uma mínima importância cabe a qualquer dono de sua própria consciência julgar. O filme também dá uma cutucada nos “antigos revolucionários”, pessoas que foram militantes em sua juventude mas que no futuro as coisas não ocorreram como queriam. E foram se desligando gradualmente de seus princípios e ideais até que abraçaram o sistema que tanto conflitavam. “Somente desejava uma vida mais confortável”, dizia o personagem. Se o destino de todo espírito revolucionário é se esvair para que o “lado negro” consiga se apossar de seu corpo, não sei. Mas sei qual vai ser a prole desse manto obscuro. Aquele que é conformista, mas confortável, alienado, porém abençoado, competente, e no entanto tão impotente.
Não acredito no ser humano (que me desculpe Anne Frank), pelo menos não nos dias de hoje. Só haverá mudança quando vier do pó, da recriação, da revolução, pessoal e social. Se meu espírito se corromperá? Não sei. Espere e me pergunte daqui a trinta anos.


por Gabriel Gonçalves
P.s.: O texto acima nao necessariamente está de acordo com a política do Diretório Acadêmico.

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