segunda-feira, 23 de julho de 2007

Juvenal e o ENADE - Segunda Edição

Juvenal é um cara legal, universitário, estuda publicidade na Unifor. Gente boa, bom de papo, bom de copo. Se dá bem com as meninas e com os meninos, é desenrolado. A aparência física do Juvenal? Ele é assim o que chamamos de normal: magro, moreno... sei lá... Tem um estilo meio alternativo.

Juvenal poderia ser o cara perfeito, se não fosse por um único defeito: foi selecionado para fazer o Enade. Mas porra, Juvenal, que merda é o Enade? O Enade, pelo que foi dito ao nosso jovem acadêmico, é o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. É assim, ó: ele serve para ver o nível das escolas de ensino superior e, se você não fizer a prova, você não recebe o seu diploma quando se formar.

Pô, olhando assim, a prova até que poderia ser justa, mas puta que o pariu, ser obrigado a fazer é sacanagem, só pode ter treta no meio. Por isso que o inconformado Juvenal, resolveu dar uma olhada no que significa essa prova, e até que não foi difícil; perceptível como ele é, logo sentiu o cheiro da bosta.

Descobriu que o Enade é a prova que veio substituir o antigo Provão, lá dos tempos cavernosos do tal Fernando Henrique Cardoso. O diabo do provão era muito criticado, ninguém gostava, quer dizer, o governo federal e os gringos investidores, deviam gostar.

Aí, quando mudou o governo, inventaram um treco chamado SINAES, que é o Sistema Nacional de Educação Superior. O primeiro projeto do Sinaes foi bastante aplaudido, bem aceito por diversos setores da sociedade; óbvio que teve que passar por mudanças. Inventaram umas comissões fajutas para fingir que a formulação do novo sistema era democrático, o povo chiou, aí foram mudando, mudando, mudando... Até que saiu algo bem parecido com as coisas do FHC.

O Enade – além de mais uma sigla chata para decorar – é a prova de avaliação criada com Sinaes. Essa tal prova, se não é igual, lembra muito o provão. Mas se ninguém concordava com o provão, aceitaram o Enade? Lógico que não, Juvenal. O povo viu que a melhor forma de ser contra essa prova era fazer como era feito no provão, ou seja, zerar a prova.

Mas pô, Juvenal, o que será que tem de tão ruim nessas provas? Cara, é o seguinte: primeiro o fato de ser obrigatória e punitiva... Pô, é uma tremenda sacanagem cassar o diploma de quem não for fazer a prova.

Segundo, é que não leva em conta as características regionais. Imagina: já é completamente diferente uma grade curricular de uma universidade para outra, quanto mais de um estado para outro. Um exemplo disso foi na prova do Enade da Educação Física, onde perguntaram como era a prática de determinado esporte em clima de neve; óbvio que isso não se encaixa na especificidade local.

Mas Juvenal, não tem também uma parada de “rankiamento”? Pois é, para um bom publicitário é fácil sacar qual é a desse lance. É que o Enade na verdade não avalia. E mais: diminui os investimentos das universidades públicas que tiverem baixo desempenho, quando deveria ser o contrário – se está ruim tem que melhorar. Isso faz parte de uma política de transformar o público em privado. Hoje não era pra ninguém estar estudando no ensino privado, e sim na universidade pública; acaba que pagamos duas mensalidades: os impostos para a educação e a mensalidade da universidade.

O rankiamento é importantíssimo para as universidades particulares, com isso elas tentam passar a idéia de que são melhores que as outras, aí surgem as bizarrices como “cursinho preparatório para o Enade” promovido pelas universidades pagas... O problema é que o Enade e o Sinaes acabam não avaliando de verdade a questão da Universidade – pesquisa ensino e extensão –, ou seja, fazem uma avaliação falsa.

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