segunda-feira, 9 de julho de 2007

Violências da Universidade - Primeira Edição

“Está tensa: anos de preparo escolar para chegar àquela prova, uma prova que define muita coisa em seu futuro, uma prova para entrar na Universidade Federal do Ceará, ter um diploma, ser uma profissional qualificada. Sonhos e mais sonhos contidos em uma prova, somente uma prova: o vestibular.
Um frio lhe atinge o corpo, uma ânsia de vômito lhe sobe pela garganta. Nervosa, se sente mal.
Pede ao fiscal permissão para ir ao banheiro. É para lá que se dirige – chuá – joga água no rosto. Olha-se no espelho, e no reflexo, vê um homem atrás de si. Acha estranho: ele não deveria estar ali.
A mão asquerosa daquele homem sujo puxa-lhe o corpo e submete-o ao seu. A mesma mão aventura-se em seus seios, rasga-lhe a roupa. Chora. Suplica que pare... Tudo em vão. Perde sua honra e sua vida.”
Este fato aconteceu há alguns anos na Unifor, no dia de uma prova de vestibular para a UFC. Após essa barbárie, outro tipo de violência aconteceu: a violência do silêncio. O constrangedor silêncio dos veículos de comunicação que, para preservar o grupo Queiroz, não se manifestaram. Da universidade, ao ausentar-se das explicações. Os únicos que não ficaram calados foram os corredores: com suas imensas bocas, fizeram o relato que abre este texto.
Outras tantas formas de violência – que ultrapassam o caráter físico – estão presentes no dia-dia, neste espaço de saber.
Tarjas são coladas às bocas dos estudantes continuamente: o direito à livre expressão – garantido pela constituição – é completamente esquecido quando entidades de base ou grupos de estudantes têm seus textos e panfletos censurados pela Universidade. Para que circule qualquer material escrito (cartazes, panfletos, faixas) na Unifor, é preciso autorização da prefeitura do campus, sempre negada quando trata-se de críticas à universidade. Desta forma, só é possível expressá-las para os demais estudantes, subvertendo a ordem e ignorando os apelos dos seguranças do campus – que acatam ordens de seus superiores.
Enquanto a universidade está preocupada em assegurar a censura a seus estudantes, os “causos” contados nos corredores só aumentam: estórias de roubos de carro e violência sexual a um estudante, são alguns exemplos. Destes “causos”, os alunos que circulam no campus acabam nunca sabendo o que é verdade ou mentira.
A violência universitária também se origina de alguns tutores, que se utilizam de seus cargos educacionais para humilhar e expor alguns estudantes ao ridículo. Trabalhos rasgados, riscados e comentários irônicos são bastante comuns na universidade. As universitárias acabam sofrendo mais; velhos carecas lançam piadinhas e constantemente, com olhares vorazes, “secam” os corpos de suas alunas, aproveitando-se do espaço das aulas que ministram.
Os estudantes também se violentam. Além de agressões físicas e morais destinadas aos seus colegas, alguns se utilizam das entidades de base – que têm a função de representatividade estudantil – para seu beneficio próprio, aparelhando-as com partidos políticos e envolvendo-as em casos de desvio de verba – algo que já aconteceu duas vezes no DCE da Unifor.
Porém o caso de auto-violência mais comum entre os universitários é a aceitação e a acomodação em face daquilo que lhes aflige. Não tomar posição e questionar as agressões do cotidiano universitário, é o mesmo de respaldá-las. Deve-se sempre lembrar que “vozes se propagam no vento atingindo os ouvidos mais distantes, rompendo a densa barreira do silêncio”.

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