sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sem idealismos - Segunda Edição

É muito fácil rotineiramente falar do que são os problemas do país, o que os causa, o que os mantêm. Vista de fora a periferia chega mesmo a ser bonita, inspiradora até do ponto de vista poético. Você observa somente quando as cortinas se abrem, somente o que se deixa expor. Sem perceber o humano presente. Vê a “cidade” dentro da cidade, como se fosse arquitetada, como se fosse patrimônio seu. Uma beleza sem idealismos, realizada como meio de sobrevivência, não uma reação pensada, mas uma reação ao mundo que está fora dos padrões. Percebe os barracos assimétricos, os meninos de pés descalços lutando pela vida num campinho de futebol, as mulheres com sonhos de menina, muitos filhos, um único cômodo, geladeiras vazias e a televisão ligada de forma democrática como os meios insistem em afirmar que são. Sonhos e desejos pautados pelas novelas, num universo à parte e distante dos personagens principais.

Cadê a identificação, a consciência dessa massa concentrada, sem força, aos pés dos “donos”, que controlam e constroem o país? Alguém percebe os dias nessa consciência contrastada em pólos extremos? Precisamos conhecer esses limites gritantes entre a periferia e esse mundo de arranha céus que tenta encobri-la.

São muitos os que mantêm um olhar puro, com a “tranqüilidade” da fome, uma resistência freqüente e triste que só busca sobreviver. Alimenta os sonhos pelos olhos, consome o mundo. Vida dura de infância. Parecia viver durante a noite, enquanto o corpo se contorcia, sem comida, dormindo, é quando lhe vem toda a confiança e fé, essenciais a um caminho tão ligado ao medo da vida.

Você se prende naquele olhar que pede compaixão sem precisar de movimento algum. Faz escolhas. Muda de posição. Vive como um literal senhor, dono da própria opinião, do próprio mundo. Podendo e tentando mudar sua existência, exclusivamente ela, sem reparar sequer ao seu lado. Sempre absorvido por uma “inconsciência” de um mundo diferente, mais falho, crítico, lamentável mesmo, onde vidas parecem não ter valor.

Onde prefere ver a simplicidade? Existem possibilidades por todos os lados. São as cercas ou o céu aberto que lhe chamam atenção? Há alguma esperança nessa imagem, já sem glória alguma, vista pelas janelas da cidade? Não há estrelas que possam contar histórias, seguem-se vidas inteiras, cheias de paranóia e medo. Medo dos que passam pelas ruas, dos que andam ao seu lado, até cumprimentos inspiram desconfiança. Onde estão as pessoas de boa índole, que ainda respeitam, que ainda vêem os que pedem esmola, que moram nas ruas, ou nessas “cidades” inusitadas, arquitetadas pela naturalidade de fugir do frio, desse céu aberto tão seco agora sem planos, sem trajetórias, porque não se pode ver estrelas, e mesmo que elas estivessem lá já não há tempo pra isso.


por Priscila Lima

2 comentários:

Anônimo disse...

eita pessoas, temos que divulgar mais este infimo espaco virtual...queria ve o numero de visitas

Anônimo disse...

livino ai no anonimo