segunda-feira, 9 de julho de 2007

Correspondência - Primeira Edição

Tem dias em que tudo o que lhe é verdadeiramente importante são suas próprias lembranças. É muito estranho comentar como foi o dia, tentar escrever coisas que aconteceram, que me fizeram lembrar, e às vezes recorrer à pessoa que eu já fui quase implorando que ela volte.
Me impressiono quando lembro. Um daqueles dias em que se busca estar sozinha, vai ao teatro, ao museu, toma café, senta e só observa. Confirma seus méritos com conversas que surgem da forma mais simples.
Você passa a vida esbarrando nas pessoas, busca por elas a cada segundo, tudo o que tenho que fazer é dá margem à possibilidade.
Finalmente estava relendo cartas, uma correspondência que mantive durante alguns meses há três anos. Não importa quantas coisas infantis talvez eu tenha escrito, por algum tempo essas palavras recebidas da forma mais convencional (de certa forma até conservadora. Quem manda cartas? Quem torna as pessoas suficientemente importantes para que lhe valha o tempo de escrever?), eram o meu conforto nos piores dias, acho que até hoje são isso, não importa a data, o que eu leio tem tanto valor hoje quanto teve antes.
Me pergunto diversas vezes o que aconteceu com essas pessoas que já passaram pela minha vida, querendo tanto trazê-las de volta ainda que por minutos, ver em que o tempo foi importante.
Era mesmo como um diálogo, era quase como falar ao telefone, perguntas, respostas, histórias contadas de uma vida inteira, conselhos, opiniões. Infelizmente as coisas mudam, as pessoas se afastam. Talvez nunca os veja de novo, não sei o que me falta pra pegar o telefone agora e depois de três anos, em uma ligação interurbana simplesmente perguntar como está. Não devíamos ter que nos fazer tantas perguntas antes de fazer qualquer coisa, às vezes os impulsos são mais importantes, queria que fossem dessa vez. Queria não me importar com a reação da pessoa do outro lado da linha. Talvez eu reaja um dia desses.
Perguntou-me certa vez o que era mais importante, os lugares ou as pessoas. Só consigo pensar nisso com completa sinceridade agora, quando vejo a falta que podem fazer. O tempo complementa, constrói, muda completamente as nossas vidas, encerra uma história, começa uma outra. Como uma tarde pode fazer falta. Esse foi o tempo que eu tive. Tempo pra mostrar uma vida inteira, pra fazer valer a pena cada segundo, pra tornar qualquer coisa possível.
Mesmo descansando terno, parado em uma caixa cheia das mais simples histórias. Não importa quanto tempo passe, o passado continua a construir os novos dias, tornar eternos. Vai continuar a me empurrar ou puxar de volta quando for necessário. E eu sei que vai ser.

“O amor é libertar aquele que se vai. Vá você também.”

por Priscila Lima

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